Diferenciação Numérica
O cálculo é a matemática da
variação e como os engenheiros devem lidar continuamente com sistemas e
processos que variam, o cálculo é uma ferramenta essencial de sua profissão. No
cerne do cálculo, estão os conceitos matemáticas relacionados de derivação e
integração (CHAPRA, 5ed). A derivada
representa a taxa na qual uma grandeza varia em função de outra grandeza. Essa
definição é expressa pela fórmula abaixo:
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Conceito algébrico de derivada. |
Nesse caso, f(x) ou y é
a representação para variável dependente e x é a variável independente. Além
disso, a representação de uma derivada também pode ser feita por y’ ou f’(xi) e
representa a primeira derivada de y com relação à x, calculada em xi.
Observe nos gráficos abaixo: a medida que Δx tende a zero, obtém-se
as derivada no ponto xi.
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Fonte: (CHAPRA, 5ed.) |
Motivação da diferenciação numérica
Em muitas circunstâncias, pode ser difícil de se obter valores de derivadas de uma função, uma vez que, elas podem podem ser expressões matemáticas difíceis ou impossíveis de derivar analiticamente, sendo necessário o uso de métodos numéricos para resolução desses problemas.
As funções a serem derivadas numericamente são representadas tipicamente de duas formas: uma tabela de valores ou uma equação. Para informações tabeladas, fica-se limitado ao número de dados disponíveis. Já com a equação disponível, é possível gerar uma quantidade necessária de f(x) para alcançar uma precisão aceitável para o problema. No entanto, diferenciação numérica é realizada em dados especificados, como um conjunto de pontos discretos. Mesmo com disponibilidade da função a ser derivada, a diferenciação numérica é feita usando os valores dos pontos.
Aproximação da derivada por diferenças finitas
Para um determinado conjunto de dados pode-se utilizar a aproximação por diferenças finitas. A aproximação da derivada em um ponto xi por essa abordagem é baseada nos valores dos pontos na vizinhança de xi. A derivada no ponto xi é aproximada pela inclinação da reta que liga o ponto anterior a xi ao ponto em seguida de xi . A sua precisão depende da precisão dos pontos do conjunto de dados, do espaçamento entre os pontos e da fórmula específica usada na aproximação.
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Aproximação da derivada em xi (Fonte: GILAT, et al.) |
Na aproximação de derivadas
usando diferenças finitas, valores da função em diferentes pontos na vizinhança
do ponto x =a são usados na estimativa da inclinação. Existem várias formulas
de aproximação por diferenças finitas. A seguir são apresentadas derivadas
calculadas partir dos valores de dois pontos e posteriormente apresentado a
expansão de Taylor para assim deduzir fórmulas de diferenças finitas para obter
com três pontos ou mais.
Fórmulas de diferença progressiva, regressiva e central para derivada primeira
As fórmulas de diferenças finitas
progressiva, regressiva e central utilizando dois pontos são as mais simples
aproximações. A diferença progressiva é a inclinação da reta que conecta os
pontos (xi, f(xi))
e (xi+1, f(xi+1)). Ela avalia a derivada no ponto xi
com nos valores nesse ponto e naquele imediatamente a sua direita.
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Diferença progressiva para derivada de 1ª ordem. |
A diferença regressiva é a
inclinação da reta que conecta os pontos (xi-1, f(xi-1)) e (xi, f(xi)),
logo, avalia a derivada no ponto xi com base nos valores nesse ponto
e naquele imediatamente à sua esquerda.
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Diferença regressiva para derivada de 1ª ordem. |
A diferença central é a
inclinação da reta que conecta os pontos (xi-1, f(xi-1))
e (xi+1, f(xi+1)), avaliando a derivada em um dado ponto
xi usando os pontos xi-1 e xi+1.
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Diferença central para derivada de 1ª ordem. |
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Aproximação da derivada por diferenças finitas. |
No entanto, como já citado, a
precisão da aproximação por diferenças finitas, depende, dentre outro fatores,
da formula específica usada na aproximação. Geralmente quando se obtém dados a
partir de medições experimentais que serão diferenciados, eles apresentam
dispersões por causa de erros experimentais e para obter melhores resultados,
utiliza-se aproximação por diferenças finitas que usem os valores de mais de
dois pontos ou ainda por ser feita com uso de uma função analítica que
represente o conjunto de dados de forma aproximada, com a posterior diferenciação
dessa função.
Série de Taylor
As fórmulas
de diferenças finitas progressiva, regressiva e central de dois pontos, assim
como as de 3 pontos ou mais podem ser deduzidas a partir da expansão em série
de Taylor ou polinômios de Lagrange.
Segundo Chapra e Raymond (2011),
“em essência, a série de Taylor fornece um meio para prever o valor da função
em um ponto em termos do valor da função e suas derivadas em outro ponto. Em
particular, o teorema afirma que qualquer função lisa pode ser aproximada por
um polinômio.” E para isso, utiliza-se do erro de truncamento para obter um uso
de uma aproximação no lugar de um procedimento matemática exato.
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Aproximação de uma função pela série de Taylor |
A série de Taylor também pode ser reduzida, obtendo, assim, um resto:
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Série de Taylor: 1ª ordem. |
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Série de Taylor: 2ªordem. |
Observe que as duas ultimam
equações de Taylor é exata e possui um resto que esse é unção de (ξ),
um valor de x entre xi+1 e xi, só que desconhecido. Esse
resto é valioso por sugerir que um menor h resulta em um menor erro e, além
disso, possibilita uma comparação da ordem de grandeza do erro presente em
diferentes fórmulas de diferenças finitas. Em geral essa equação do resto é
representada pela igualdade abaixo,
onde O(hn+1) significa que o erro de truncamento é da ordem hn+1.
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Resto e erro de truncamento. |
Fórmulas de diferenças finitas de dois pontos deduzidas a partir da expansão em série de Taylor
Para obter f’(xi)
a partir da serie de Taylor, será deduzidos para pontos uniformemente
distribuídos, portanto, h = (xi+1-xi), mas também seria
possível deduzir a partir de pontos não uniformemente distribuídos. Resolvendo
a equação expansão da série de Taylor para primeira ordem em relação a f’(xi),
obtém-se:
Logo, o erro de
truncamento é de primeira ordem e o valor aproximado para derivada primeira é
igual à:
No entanto, ao fazer a
diferença finita central com dois pontos, é observado um erro de truncamento da
ordem de h². Segue abaixo a
dedução:
Ao subtrair as equações, encontra-se que:
Logo, com esse erro de
truncamento e comparando com as equações para dois pontos, observa-se que a aproximação
por diferença central fornece uma aproximação mais precisa para a derivada. No
entanto, por mais que o método apresente uma maior precisão, a fórmula da diferença
central de dois pontos pode ser usada apensar nos pontos internos e não nos
pontos extremos (x1 ou xn). Portanto, deve-se utilizar a
progressiva na derivada do primeiro ponto e a regressiva pode ser usada na
avaliação da derivada no último ponto.
Fórmulas de diferenças finitas de três pontos deduzidas a partir da expansão em série de Taylor
A fórmula de diferença finita progressiva com
três pontos calcula a derivada no ponto xi usando o valor da função
nesses pontos e nos dois pontos seguintes, xi+1 e xi+2. A
dedução da fórmula utiliza os três termos da expansão em série de Taylor com um
resto para escrever o valor da função nos pontos x, xi+1 e xi+2
em termos do valor da função e de suas derivadas no ponto xi.
Seguindo com devidas deduções e combinações, obtém-se uma estimativa para a
derivada primeira com erro de O(h²).
De forma semelhante só que
utilizando o ponto xi e os dois pontos anteriores, xi-1 e
xi-2, obtém-se a fórmula de diferença finita regressiva
com três pontos com a mesma ordem de erro.
Logo, com a utilização dessa
fórmula de diferenças finitas, progressiva e regressiva, com três pontos, é
possível obter uma maior precisão do que as formulas obtidas com os de dois pontos.
Segue
abaixo uma tabela de diferenças finitas com precisão variável que podem ser
usadas na avaliação numérica de derivadas primeiras. As fórmulas podem ser
utilizadas quando a função a ser diferenciada é especificada como um conjunto
de pontos discretos com variável independente uniformemente espaçada.
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Fonte: (GILAT, et al.) |
Aplicação
Taxas de variação de grandezas
aparecem em muitas disciplinas, especialmente na ciência e na engenharia. Por
exemplo, a lei de Fourier de condução de calor quantifica a observação de que o
calor flui de regiões de alta para regiões de baixa temperatura.
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Lei de Fourier de condução de calor. |
Nessa equação, k é a
condutividade térmica do material e T é o perfil de temperatura nesse mesmo
material dependente da posição e q’ é o fluxo de calor unidirecional dado em
W/m².
O livro "Métodos Numéricos para Engenheiros e Cientistas" traz um exemplo
justamente utilizando a lei de Fourier.
Um dissipador é uma superfície
estendida usada para transferir calor de um material (em x=0) para o ambiente.
O calor sai do material pela superfície externa e pela ponta do dissipador. A
medição da distribuição de temperatura ao longo de um dissipador fornece os
dados a seguir:
O dissipador tem um compromento L = 10cm, área de seção
reta de 1,6.10-5 m² e condutividade térmica k=240W/mK. O fluxo de calor (W/m²)
é dado por qx = -k.dT/dx.
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Esquematização do dissipador. |
Para determinar a quantidade de calor
(em W) perdida entre x =0 e x=L (o fluxo de calor por unidade de tempo em Watts é igual ao fluxo de calor multiplicado pela área da seção reta do dissipador), foi
utilizado o método da diferenciação por diferenças finitas para calcular dT/dx,
usando a progressiva e regressiva de 3 pontos nos dois primeiros e nos dois últimos
pontos e utilizou a central de 4 pontos para os demais.
Posteriormente, se
aplicou na lei de Fourier e foi obtida a taxa de calor a partir da relação de
Q=q’.A. Foi utilizado tanto no primeiro ponto quanto no segundo, logo, Q =
-((T’(n)) – T’(1)).A.k e
assim, obtida a quantidade de calor perdida. Segue abaixo o código do programa, o qual pode
ser utilizado de modo geral para todos os problemas que necessite da
diferenciação, sendo necessário que os pontos da variável independente estejam
igualmente espaçados. É necessário fornecer o vetor da variável independente,
da variável dependente e o passo. O que
muda são apenas os dados fornecidos que seguem em outro script.
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Sub-rotina para o método da diferenças finitas. |
Programa principal
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Curva da de T’x X obtida na solução. |
Como resposta final, encontra-se que a quantidade de calor
(em W) perdida entre x =0 e x=L corresponde a
Q = -((T’(n)) – T’(1)).A.k =
-5.5296 W.
Referências:
- CHAPRA, Steven C. "Métodos numéricos para engenharia". 5. ed. São Paulo, SP: McGraw-Hill, 2008.
-
Gilat, Amos. “MATLAB com
aplicações em engenharia”. 2nd ed. vol. 1. Tradução: Figueiredo, Glayson E. .
Porto Alegre, RS. Editora Bookman, 2006.
Gilat, Amos. “MATLAB com
aplicações em engenharia”. 2nd ed. vol. 1. Tradução: Figueiredo, Glayson E. .
Porto Alegre, RS. Editora Bookman, 2006.
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